Entre os dias 18 de setembro e 19 de outubro, no Parque Ibirapuera, na capital paulistana, ocorre a 14ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Além de palestras, exposições, oficinas e fóruns de debate, o evento contará com um momento histórico. Pela primeira vez acontece a exposição de tijolos de cânhamo, produzidos com os resíduos da cannabis cultivada pela APEPI. Os tijolos de cânhamo são materiais de construção sustentáveis e ainda assim de alta durabilidade. Dessa forma, ele possui diversas aplicações para a construção civil. Sobretudo, é mais uma das opções sustentáveis de uso do cânhamo industrial.
A construção experimental com cânhamo é uma obra do Projeto Ecosapiens, um ateliê multidisciplinar focado na construção de ambientes saudáveis. Os responsáveis pela instalação são os arquitetos Marta Pinto Levy, Felipe Pinheiro e Denise Covassin. A construção combina um módulo pré-fabricado em painéis de madeira com o revestimento dos tijolos. A realização do projeto é uma parceria entre o Ecosapiens, a APEPI e o Instituto Ficus.
Venha conhecer mais sobre os tijolos de cânhamo e como ele pode ser uma importante alternativa para um desenvolvimento econômico em harmonia com a natureza. Confira:
Tijolos de cânhamo: o que é e como produzir?
Os tijolos de cânhamo são biomaterias de construção que combinam fibras da cannabis com cal e água. Os tijolos também são conhecidos como blocos de cânhamo, concreto de cânhamo ou hempcrete. A produção desse material aproveita partes da planta como as folhas da maconha e, principalmente, o miolo lenhoso do caule do cânhamo (hurds ou shiv).
Usualmente, o hempcrete é produzido em formatos de blocos, visto que servem para a construções pré-fabricadas. Durante o processo de endurecimento dos blocos, ocorre o fenômeno natural da carbonatação. Em resumo, a cal reage com gás carbônico (CO2) do ar enquanto a água evapora. Assim, durante o processo de dias de secagem, o concreto de cânhamo segue removendo dióxido de carbono da atmosfera.

Principais aplicações do hempcrete
Os tijolos de cânhamo possuem diversas aplicações para a construção civil. Podem servir para o enchimento e isolamento de paredes, sobretudo em estruturas com armação de madeira ou aço. É também um importante material para revestimentos térmicos e acústicos em lajes, coberturas e paredes, para reparo e restauração de edificações antigas.
Por sua versatilidade, o hempcrete é utilizado amplamente em países da Europa, como França, Reino Unido, Holanda e Alemanha. Do mesmo modo, países como Canadá, Estados Unidos e Austrália começam a utilizar o material com maior frequência, devido a mudanças na legislação nos últimos anos.
Estima-se que o tijolo de cânhamo movimentou um mercado global de US$ 570,2 milhões em 2024. A mesma análise projeta um crescimento de US$ 645,2 milhões ao final de 2025, podendo chegar a US$ 2,24 bilhões até 2034.
Devido ao material de produção, os tijolos de cânhamo são altamente resistentes ao fogo e ao ataque de pragas. Assim, se torna uma opção eficiente para o uso de material orgânico em edificações sustentáveis. Os tijolos de cânhamo combinam construção eficiente com preservação ambiental.
Tijolos de cânhamo e o meio-ambiente
A cannabis é uma planta com forte importância para a preservação ambiental. A maconha ajuda a sequestrar carbono do ar e a recuperar solos degradados. Além disso, o plantio permite múltiplas funções. Além da produção de flores para a extração dos canabinoides para fins medicais, os resíduos possuem aplicações para a indústria, que vão de tecidos a biocombustíveis. As sementes da cannabis possuem importantes propriedades para a alimentação, como o Whey Protein de cânhamo.
Comumente, espécies de cannabis com baixo teor de tetrahidrocanabinol (THC) são chamadas de cânhamo. Ainda assim, o cânhamo pode ser usado para produzir canabidiol (CBD) para fins medicinais. Uma grande vantagem do cultivo do cânhamo é o sequestro de carbono. O cânhamo absorve carbono durante o crescimento de sua biomassa.
Do mesmo modo, a massa do tijolo de cânhamo absorve CO2 do ar durante a secagem. Já em comparação com outros materiais de construção, os tijolos de cânhamo geram menos impactos de produção, como o uso de energia e demais insumos. Além disso, é um material não-toxico para construtores e ocupantes das edificações.
Como acompanhar a exposição?
A instalação “Construção com cânhamo” estará em exposição entre os dias 18 de setembro a 19 de outubro, no Pavilhão da Oca do Parque Ibirapuera. A instalação é mais uma demonstração do potencial da cannabis. Além do poder dos fitocanabinoides para a saúde, a maconha pode ser um importante insumo sustentável. A cannabis une preservação ambiental, desenvolvimento econômico, geração de empregos, além de saúde e bem-estar.
O fomento ao uso do cânhamo industrial é uma das maneiras de fortalecer o potencial agrícola do Brasil. E para isso é fundamental o cultivo orgânico e agroecológico do modelo das associações.