Por que precisamos bater nessa tecla? Porque assim como temos um sistema digestivo, nervoso, respiratório, nós temos um outro chamado sistema endocanabinoide, mas que os médicos não aprenderam na faculdade. A medicina endocanabinoide.
Imagine que seu corpo é uma cidade grande e movimentada. O cardiologista é como o chefe dos engenheiros que cuidam das estradas e dos semáforos, garantindo que o tráfego de carros (o sangue) flua suavemente por toda a cidade (seu corpo). Eles verificam o coração, que é como uma bomba central, e garantem que tudo está funcionando bem para que o sangue chegue a todos os lugares importantes.
Agora, imagine que essa cidade também tem um sistema de comunicação super avançado que ajuda todos os cidadãos (as células) a se comunicarem e a resolverem problemas rapidamente. O endocanabinologista é como o chefe dos engenheiros que cuidam desse sistema de comunicação. Eles verificam se todos os mensageiros (os canabinoides) estão funcionando corretamente e ajudando a cidade a manter a paz, a resolver problemas de dor, a controlar o apetite e a garantir que todos possam descansar bem.
Recebemos diariamente perguntas como: “Você conhece algum neurologista, oncologista ou pediatra que prescreve Cannabis?” Porém, se esses especialistas não estudaram o sistema endocanabinoide, eles podem não estar completamente familiarizados sobre como os canabinoides interagem com o corpo e como prescrevê-los de maneira adequada para diferentes condições médicas.”
Porém, tornar a “Medicina Endocanabinoide ou endocanabinologia” reconhecida como uma especialidade, vai levar muito tempo, porque envolve realizar e divulgar pesquisas científicas, criar programas de formação médica, estabelecer associações profissionais, desenvolver diretrizes clínicas e engajar-se com autoridades de saúde e o público para obter reconhecimento oficial. Hoje, o CFM (Conselho Federal de Medicina) não concorda com essa hipótese, e médicos que insistem nisso enfrentam processos administrativos.
Por outro lado, hoje além da maior cidade da América Latina (São Paulo) estar fornecendo medicamentos à base de Cannabis no SUS, existem diversos produtos sendo vendidos nas farmácias e mais de 500 mil pacientes fazendo uso no Brasil.
Isso é preocupante, porque sem especialização em Medicina Endocanabinoide, muitos médicos desconhecem os componentes do SEC (receptores CB1 e CB2, endocanabinoides, enzimas) e seu papel crucial na regulação de várias funções fisiológicas. O SEC é fundamental para a homeostase do corpo e seu desequilíbrio pode estar associado a várias doenças. Compreender como modulá-lo pode abrir novas possibilidades terapêuticas e isso deveria ser informado na faculdade de medicina.
Médicos não especializados podem não estar cientes das diversas aplicações terapêuticas dos canabinoides, como o CBD e o THC, em condições como dor crônica, epilepsia, esclerose múltipla, ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Isso pode resultar em prescrições inadequadas e riscos à segurança do paciente devido à falta de treinamento sobre potenciais efeitos colaterais e interações medicamentosas.
A Medicina Endocanabinoide é um campo dinâmico, com novas pesquisas emergindo constantemente. E sem especialização, médicos podem não estar atualizados com os avanços científicos mais recentes, limitando sua capacidade de oferecer tratamentos baseados em evidências. Protocolos de dosagem específicos e conhecimento das indicações e contraindicações são fundamentais para a segurança e eficácia dos tratamentos com canabinoides, algo que médicos sem especialização podem não dominar. Além disso, a personalização dos planos de tratamento para otimizar os benefícios terapêuticos e o monitoramento contínuo da resposta do paciente são habilidades críticas que requerem conhecimento especializado, ausente em médicos não especializados neste campo em expansão.
Incluir o estudo da endocanabinologia na grade das faculdades de medicina é crucial para preparar os futuros médicos para uma compreensão abrangente dos sistemas biológicos e suas interações com os canabinoides. O sistema endocanabinoide desempenha um papel fundamental na regulação de várias funções fisiológicas, como dor, inflamação, sono e apetite. Ao educar os estudantes de medicina sobre o funcionamento desse sistema e as aplicações terapêuticas dos canabinoides, as faculdades podem capacitar os profissionais de saúde a oferecer tratamentos mais eficazes e personalizados para uma ampla gama de condições médicas. Além disso, a inclusão da endocanabinologia no currículo médico promove uma abordagem baseada em evidências e contribui para a pesquisa científica contínua nessa área promissora da medicina.